
Doação de órgãos na visão espírita
A doação de órgãos é um tema que desperta muitas dúvidas, tanto do ponto de vista médico quanto espiritual. Para a Doutrina Espírita, a prática não apenas salva vidas no plano físico, mas também representa uma oportunidade de aprendizado, caridade e evolução para o espírito. Mas como conciliar ciência e espiritualidade nesse processo? Neste artigo, vamos explorar em profundidade a visão espírita sobre transplantes, doação de órgãos, morte e desencarnação, trazendo ensinamentos de Allan Kardec, Chico Xavier, Emmanuel e outros autores espíritas renomados.

Doação de órgãos segundo a Doutrina Espírita
Na época de Allan Kardec, o tema dos transplantes ainda não era cogitado. Entretanto, estudiosos contemporâneos do Espiritismo, como Dr. Jorge Andréa, afirmam que não há qualquer impedimento espiritual para a prática da doação de órgãos:
“A conquista da ciência é força cósmica positiva que não deve ser relegada a posição secundária por pieguismos religiosos. Por isso, chegará o dia em que poderemos avaliar até que ponto as influências espirituais se encontram nesses mecanismos, a fim de que as intervenções sejam coroadas de êxito e pleno entendimento.”
(Psicologia Espírita, Jorge Andréa, p. 42-43)
Chico Xavier também respondeu à questão da compatibilidade entre transplantes e leis naturais:
“Não. Assim como aproveitamos uma peça de roupa que não tem utilidade para determinado amigo, é natural que, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com segurança e proveito.”
(Folha Espírita, nov/82)
A doutrina espírita vê, portanto, a doação de órgãos como um ato de caridade, sem contrariedade às leis naturais.
Diferença entre morte e desencarnação
Um ponto central para entender a doação de órgãos é diferenciar morte e desencarnação:
- Morte: evento biológico em que o corpo físico deixa de funcionar.
- Desencarnação: desprendimento do espírito do corpo, que pode ocorrer gradualmente, dependendo do apego material do indivíduo.
Emmanuel explica:
“Mesmo que a separação entre o espírito e o corpo não se tenha completado, a Espiritualidade dispõe de recursos para impedir impressões penosas e sofrimentos aos doadores.”
(Plantão de Respostas, Emmanuel/Chico Xavier)
Portanto, a extração de órgãos não prejudica o perispírito quando realizada de forma consciente e desinteressada.
Quem pode doar órgãos?
Em linhas gerais, todos podem se tornar doadores, tanto em vida quanto após a morte, desde que haja desapego e intenção altruísta. Chico Xavier esclarece:
“Sempre que a pessoa cultive desinteresse absoluto em tudo aquilo que ela cede para alguém, sem desejar qualquer remuneração ou gratidão, esta criatura está em condições de dar, porque não vai afetar o perispírito em coisa alguma.”
(Folha Espírita, nov/82, apud “Chico, de Francisco”, pág. 84)
O contrário também é verdadeiro: quem mantém apego excessivo a posses ou benefícios materiais pode sentir perturbações espirituais mesmo após a morte.

Órgãos que podem ser doados
Em vida:
- Rim
- Parte do fígado
- Pulmão
- Medula óssea
Após a morte:
- Córneas
- Rins
- Fígado
- Coração
- Pâncreas
- Pulmões
- Intestinos
- Tecidos: pele, vasos, tendões, ossos
Em todos os casos, o que prevalece é a intenção de ajudar e não a utilidade do órgão para o próprio doador.
Tempo recomendado para doação
O período ideal para a extração de órgãos varia entre 48 e 72 horas após a morte biológica, respeitando o grau de desprendimento do espírito. Emmanuel ressalta:
“Mesmo que a separação entre o espírito e o corpo não se tenha completado, a Espiritualidade dispõe de recursos para impedir impressões penosas e sofrimentos aos doadores.”
(Plantão de Respostas, Emmanuel/Chico Xavier)
Coma e doação de órgãos
O estado de coma não equivale à morte. O espírito pode permanecer ligado ao corpo de forma parcial, dependendo do apego material:
- Alguns permanecem “aprisionados” aguardando auxílio espiritual.
- Outros mantêm relativa liberdade e podem ter experiências de percepção do plano espiritual.
A doação só é indicada após a constatação da morte tronco-encefálica.
Eutanásia e desapego
A eutanásia é vista com cautela no Espiritismo. Emmanuel explica:
“A morte voluntária é entendida como o fim de todos os sofrimentos, mas trata-se de considerável engano. A fuga de uma situação difícil não resolverá as causas profundas que a produziram, já que estas se encontram em nossa consciência.”
(Plantão de Respostas, Emmanuel/Chico Xavier)
O espírito continua ligado ao corpo por meio do perispírito, mesmo que aparente desligamento físico.
Benefícios espirituais da doação
A doação de órgãos proporciona:
- Alívio e gratidão ao receptor
- Desenvolvimento da caridade e desapego no doador
- Auxílio de espíritos benfeitores
- Integração da ciência médica ao plano espiritual
O caso Wladimir, narrado por Richard Simonetti (Quem tem medo da morte?), mostra que mesmo em mortes traumáticas, a doação consciente pode trazer grande benefício espiritual.
Transplantes e rejeição
A rejeição de órgãos depende de:
- Compatibilidade do fluido vital entre doador e receptor
- Equilíbrio espiritual de ambos
- Merecimento e evolução do receptor
Não há ligação direta entre órgão doado e impressões espirituais negativas permanentes.
Aspectos éticos e decisões familiares
- O consentimento do doador é essencial, mesmo após morte.
- Comunicar a família sobre o desejo de doar é suficiente; não é necessário registro formal.
- A intenção altruísta é determinante para a harmonia espiritual.
Chico Xavier, por exemplo, optou por não se tornar doador, respeitando sua própria decisão íntima.
Doação de órgãos e o perispírito
O perispírito não sofre danos com a extração de órgãos. Lesões espirituais acontecem por atitudes incorretas, não pelo uso médico do corpo. André Luiz, em Nosso Lar, explica que o corpo físico é apenas um instrumento; o espírito evolui com base em ações e intenções.
Considerações sobre transplantes de suicidas
Mesmo que um doador tenha se suicidado, a doação pode trazer benefícios se o receptor for equilibrado e esclarecido. Waldo Vieira reforça que a Espiritualidade amiga consegue harmonizar energias, permitindo compatibilidade e evitando danos maiores.
Impactos da doação na evolução do receptor
Receber um órgão oferece:
- Mais tempo no plano físico
- Oportunidade de reavaliar a vida
- Cumprimento da programação evolutiva
- Possibilidade de aprendizado moral e espiritual
Não há vínculo direto do perispírito do doador com o receptor, exceto em casos psicológicos de grande sensibilidade.
Doação consciente e aprendizado espiritual
Praticar a doação de órgãos é uma forma de exercício da caridade e do desapego. Emmanuel reforça que o ato é um instrumento de aprendizado para a humanidade, integrando ciência e espiritualidade.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. A doação de órgãos prejudica o espírito do doador?
Não. O perispírito permanece inalterado quando a doação é feita com intenção altruísta.
2. Qual o melhor momento para retirar órgãos de um falecido?
Após a constatação da morte tronco-encefálica, respeitando de 48 a 72 horas para total desprendimento do espírito.
3. Pessoas em coma podem doar órgãos?
Não, somente órgãos não essenciais à vida, até que seja confirmada a morte cerebral.
4. A doação de órgãos de suicidas prejudica o receptor?
Se o receptor for equilibrado e esclarecido, não. A Espiritualidade pode harmonizar a energia transmitida.
5. É necessário formalizar o desejo de doar órgãos em documentos?
Não, basta comunicar à família sobre a decisão em vida.
Conclusão
A doação de órgãos, sob a ótica espírita, é um gesto de caridade e evolução espiritual, que beneficia tanto o receptor quanto o doador. A prática harmoniza ciência e espiritualidade, preserva o perispírito, fortalece a fé e o desapego, e promove aprendizado moral e espiritual. Informar a família sobre a intenção de doar é essencial, e a escolha consciente é sempre respeitada.
Em resumo, doar órgãos é um ato de amor que transcende o corpo físico, conectando a vida terrestre à evolução espiritual.
Referências bibliográficas
- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB, 1857.
- Xavier, Chico. Plantão de Respostas. Emmanuel, FEB.
- Xavier, Chico. Folha Espírita, novembro de 1982.
- André, Jorge. Psicologia Espírita. 2ª ed., 1990.
- Simonetti, Richard. Quem tem medo da morte?. FEB, 2003.
- Vieira, Waldo. Projeções da Consciência. 1975.

Sou Hailton Souza, contador aposentado, médium e apaixonado pelo Espiritismo desde sempre. Criei esse blog pra compartilhar um pouco do que aprendi ao longo da vida sobre espiritualidade, mediunidade, e também sobre um tema que sempre me fascinou: a ufologia. Aqui, falo com o coração, misturando vivência, estudo e curiosidade, na esperança de ajudar quem também está em busca de entender mais sobre esses assuntos — sempre com a visão espírita como base.
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