Diferença entre Espiritismo e Kardecismo

Por que existe tanta confusão nos termos?

Você já deve ter ouvido alguém afirmar com convicção: “Sou espírita kardecista!” ou “Sigo o Kardecismo!”. Mas afinal, existe realmente diferença entre Espiritismo e Kardecismo? O que esses termos significam? E será que existe um certo e errado nessa nomenclatura?

A confusão nasce, muitas vezes, do hábito popular e da necessidade de distinguir o Espiritismo codificado por Allan Kardec de outras práticas espiritualistas que se apropriaram do termo “espírita”. Para entender de onde veio essa distinção, precisamos voltar à origem da doutrina, compreender seu desenvolvimento histórico e perceber como as palavras foram sendo utilizadas ao longo do tempo.


Espiritismo: a Doutrina dos Espíritos

O termo Espiritismo foi criado por Allan Kardec em 1857, na introdução de O Livro dos Espíritos. Ele explicou que era necessário usar um nome novo para evitar confusões com expressões já existentes, como “espiritualismo” ou “espiritualista”.

Espiritismo, portanto, significa “doutrina dos Espíritos” e se baseia em três aspectos complementares:

  1. Filosófico – explica questões fundamentais sobre a vida, a morte e a evolução espiritual.
  2. Científico – investiga fenômenos mediúnicos de forma racional e criteriosa.
  3. Religioso – orienta condutas morais, sempre inspiradas nos ensinamentos de Jesus.

Kardec codificou os princípios fundamentais do Espiritismo nas chamadas obras básicas:

Juntas, essas obras formam a Codificação Espírita, base do que hoje chamamos de Doutrina Espírita.

Quer se aprofundar na Doutrina Espírita? Leia as obras básicas de Allan Kardec e descubra como a fé pode ser esclarecedora.


O que é Kardecismo, afinal?

O termo Kardecismo surgiu posteriormente, como uma forma popular de identificar quem segue fielmente os ensinamentos codificados por Allan Kardec, distinguindo-os de outros grupos espiritualistas que também se chamam espíritas, mas que não estudam ou não seguem rigorosamente as obras básicas.

etrato de um homem com expressão séria, vestindo paletó vinho, colete com padrão geométrico e gravata verde, sobre fundo neutro
Allan Kardec

Linguisticamente, Kardecismo significa “doutrina de Kardec”, e seu adjetivo correspondente é kardecista. Enciclopédias renomadas como Oxford, Barsa e dicionários como Houaiss reconhecem o termo como sinônimo de Espiritismo.

No entanto, alguns estudiosos resistem a essa nomenclatura por entenderem que:

  • Pode dar a impressão de que a Doutrina Espírita é criação pessoal de Kardec, quando, na verdade, ele apenas organizou e sistematizou os ensinamentos dos Espíritos Superiores.
  • O próprio Kardec, em sua modéstia, afirmou que não inventou nenhum princípio, apenas codificou o que recebeu do plano espiritual.

Apesar dessa resistência, o termo “Kardecismo” acabou sendo incorporado ao vocabulário popular, principalmente no Brasil, para diferenciar o Espiritismo Kardecista das correntes espiritualistas ou mediúnicas que não seguem a codificação original.


Allan Kardec: o codificador, não o criador da doutrina

Allan Kardec, pseudônimo do educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, jamais quis ser visto como “fundador de uma religião”. Em suas próprias palavras:

“Nunca se poderá dizer: a doutrina de Allan Kardec; pois não tenho o mérito da invenção de um só princípio.” (O Que é o Espiritismo, Diálogo II)

Para ele, o Espiritismo é uma revelação dos Espíritos Superiores, e não obra humana. Kardec atuou como organizador rigoroso: analisou mensagens mediúnicas recebidas em vários países, confrontou informações e só publicou o que fosse coerente, lógico e universal.

Portanto, quando alguém se diz “kardecista”, está apenas reforçando que segue a Doutrina Espírita tal como foi codificada por Kardec, em vez de práticas espiritualistas paralelas.


Por que o termo Kardecismo continua sendo usado?

Existem três razões principais para a persistência do termo:

  1. Distinção prática – ajuda a diferenciar a Doutrina Espírita de movimentos espiritualistas que não seguem Kardec.
  2. Popularização no Brasil – onde o Espiritismo se tornou mais conhecido e estruturado, especialmente por meio do trabalho da Federação Espírita Brasileira (FEB) e de médiuns como Chico Xavier.
  3. Adaptação cultural – muitas pessoas leigas compreendem melhor quando ouvem “Espiritismo Kardecista” do que apenas “Espiritismo”.

Allan Kardec, em discurso de 1867, chegou a usar a palavra “kardecistas” para se referir aos adeptos, sem demonstrar incômodo. Isso mostra que ele não se preocupava com rótulos, mas sim com a essência: viver os ensinamentos e promover o progresso moral da humanidade.


Espiritismo no Brasil: a maior nação espírita do mundo

O Brasil abriga hoje a maior comunidade espírita do planeta, com milhões de adeptos e uma rede sólida de centros, editoras, eventos e obras sociais. Esse crescimento se deve a fatores históricos importantes:

  • Tradução das obras de Kardec para o português em 1875.
  • Expansão do movimento espírita entre intelectuais no final do século XIX.
  • Popularização através do trabalho de Chico Xavier e outros médiuns reconhecidos.

No país, o uso do termo “kardecista” se espalhou justamente para esclarecer que não se tratava de Umbanda, Candomblé ou outros movimentos espiritualistas — todos respeitáveis, mas distintos da codificação espírita.


Então… existe realmente diferença entre Espiritismo e Kardecismo?

A resposta é simples: não há diferença essencial.

  • Espiritismo é o nome original dado por Allan Kardec à Doutrina dos Espíritos.
  • Kardecismo é apenas uma maneira informal ou popular de dizer “Espiritismo codificado por Kardec”.

O uso do termo pode incomodar alguns puristas, mas, como lembrava o próprio codificador, mais importante que a forma é a intenção. Se a expressão ajuda as pessoas a compreender do que se trata, não há motivo para conflito.

Vivendo a Doutrina: mais importante que nomes ou rótulos

No fim das contas, ser espírita — com ou sem adjetivos — é muito mais do que usar um termo específico. É viver os ensinamentos de Jesus à luz do Espiritismo:

  • praticar a caridade em todos os momentos;
  • estudar e compreender a Codificação Espírita;
  • buscar constantemente o aperfeiçoamento moral;
  • exercitar a fé raciocinada, sem dogmatismos.

Como bem disse um amigo a Paulo Bomfim, autor do texto original:

“A forma pouco importa; o que importa é a intenção.”

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Sou Hailton Souza, contador aposentado, médium e apaixonado pelo Espiritismo desde sempre. Criei esse blog pra compartilhar um pouco do que aprendi ao longo da vida sobre espiritualidade, mediunidade, e também sobre um tema que sempre me fascinou: a ufologia. Aqui, falo com o coração, misturando vivência, estudo e curiosidade, na esperança de ajudar quem também está em busca de entender mais sobre esses assuntos — sempre com a visão espírita como base.

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